segunda-feira, 29 de junho de 2015

O contraditório em sentir que algo é e não é ao mesmo tempo...
o mais dolorido é o pertencimento e ao mesmo tempo, em momentos de lucidez observar 
tudo o que está posto não faz parte de você, como se fosse algo substituível ou que
se emoldura pra tornar o lugar mais belo
diante de tanta racionalidade, ordem e chatice.

terça-feira, 23 de junho de 2015

VACAS PROFANAS

Sem teu hálito escarrado na vogal
da palavra
repita:BOCETA
sem que cada letra
atravessasse povoado da vergonha
arrastada pelo braço
Repita:BOCETA
quantas vezes preciso
BOCETA
afrouxe o dente serrado
não convém os olhos vendados
a escuridão espreitada ao lado
e nem diga como se cada vogal
estivesse ali pra ser violada
repita Amigo, não tenha medo
BOCETA.

(Antônia Muniz)

quarta-feira, 10 de junho de 2015

CARTA PARA HONEY B.


Santarém, 07 de setembro de 2015.

Honey B,

Dias chuvosos são muito peculiares, em particular, a preguiça e a melancolia me assaltam. Ultimamente, venho fazendo uma retrospectiva, paulatina, desde que sai de Belém há um ano e alguns meses. Tive muitas experiências, ora alegres, ora estressantes, ora tristes... Conheci pessoas maravilhosas, outras desprezíveis... Nesse caminho reencontrei outras da minha infância, adolescência e até dessa fase juvenil... A perseverança me acompanha há tempos, contudo, ás vezes, ela some num piscar de olhos, e é onde a minha aflição começa... Tenho receio de abandonar tudo que já construí pelo simples motivo de ratificar o que o Senhor Tempo me mostra e eu não quero aceitar – até quando irei aguentar a minha pressão e a dos outros? E as comezinhas do cotidiano? – Essas já estragaram muito a nossa relação (sem culpados disso e daquilo... isso é enfadonho). A certeza é que se um dia eu voltar pra cidade das mangueiras não é porque eu deixei de te amar, mas, porque estamos em dimensões temporais diferentes.

PS: Amo-te, Flor.

PS 2: E Que engraçado, ouvi no rádio aquela música “ O Tempo” dos Móveis Coloniais que transcrevo na íntegra:

A gente se deu tão bem
Que o tempo sentiu inveja
Ele ficou zangado e decidiu
Que era melhor ser mais veloz e passar rápido pra mim
Parece que até jantei
Com toda a família e sei
Que seu avô gosta de discutir
Que sua avó gosta de ouvir você dizer que vai fazer

O tempo engatinhar
Do jeito que eu sempre quis    (Refrão)
Se não for devagar
Que ao menos seja eterno assim

Espero o dia que vem
Pra ver se te vejo
E faço o tempo esperar como esperei
A eternidade se passar nos dois segundos sem você
Agora eu já nem sei
Se hoje foi anteontem
Me perdi lembrando o teu olhar
O meu futuro é esperar pelo presente de fazer

(Refrão)

Pra mim, pra mim
Laiá, lalaiá

Se o tempo se abrir talvez
Entenda a razão de ser
De não querer sentar pra discutir
De fazer birra toda vez que peço tempo pra me ouvir

A gente se deu tão bem
Que o tempo sentiu inveja
Ele ficou zangado e decidiu
Que era melhor ser mais veloz e passar rápido pra mim
Eu que nunca discuti o amor
Não vejo como me render
Ah, será que o tempo tem tempo pra amar?
Ou só me quer tão só?
E então se tudo passa em branco eu vou pesar
A cor da minha angústia e no olhar
Saber que o tempo vai ter que esperar
(Refrão)