As relações afetivas são muito complexas - um momento amamos uma pessoa e em outro a odiamos - é dialético, pois, lá na frente há a possibilidade de um reencontro (que não é necessariamente afetivo, mas, de amizade ou coleguismo) ou o total desprezo...
Débora pensava nessa dialética, e foi quase inevitável não rememorar o seu relacionamento de 05 anos com John - os sonhos, as desilusões, as traições dele...
Na época da traição dele, não conseguiu o confrontar...eram namorados desde que ela tinha 17, ele tinha 19 - Débora, a princípio, pintou uma tela de que eles ficariam juntos até a velhice...
O relacionamento estava em crise!
John era um cara meio " deixa a vida me levar", sem muitos planejamentos...era brilhante, mas, estava frustrado com as perspectivas de sua profissão - estudava jornalismo!
Débora saiu a noite com algumas amigas para desabafar e se divertir - A Praça do Carmo estava lotada! Lá esbarrou com Marcos - um carinha por quem teve uma paixão platônica, mas, por ser mais velho, a esnobou.
Cumprimentaram-se..
Débora já meio entorpecida, olha furtivamente para a mesa de Marcos, e antes dele perceber voltava a atenção para as amigas...Meia hora depois, pediu licença a elas: - Meninas, vou bem ali fumar. Já volto!
Atravessou a praça, a rua e se encostou no muro e ali mergulhou em si mesma que nem percebeu quando Marcos se aproximou...
- Que susto, Marcos
- Desculpa, Débora...tu não viste eu me aproximar?
- Não...
- Quanto tempo, hein? - disse Marcos
- É faz mesmo...lembrei agora de quando tu me esnobava ( risos)
- Ah! menina para com isso...
- Como tá lá em Minas?
- Muito trabalho...é uma cidade muito bonita, mas, sinto saudades de Belém.
- Hum!!
E conversaram sobre muitas outras coisas...Débora fumou quase um maço inteiro
- " Déboraaaa, vamos amiga? gritou Aline.
- Já tô terminando! Pera só um pouquinho, Aline, por favor!
- Tchau, Marcos. Sucesso.
a noite estava fria, tal qual a vida dela...um abraço...um arrepio!
- Ei, espera - gritou Marcos
- oi? O quê? perguntou Débora
Um beijo...Uma transa...algo passageiro...
Não aguentou e contou a John que no auge do orgulho ferido a humilhou, chegando a dizer que só voltaria a namorar se fossem morar em outra cidade, pois, estava marcado pela desonra. Sem condições de reagir, calou-se diante das barbaridades...
Terminaram...
Hoje, depois de muitas experiências, com mais idade, com mais "leituras" do mundo e de conhecimento - quando lembra deste episódio, pensa que teria tido outra atitude: teria dito pouca e boas ao John, mas, a vida não é feita de "se"...Por muito tempo aquela cicatriz que o Machismo de John fez em seu coração doeu e sangrou muito...
"o passado é uma roupa que não nos serve mais"...é isso mesmo, Belchior..."obrigada"
- Adeus, John!