quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

O SOLAR

Era um solar bem conservado. Ele tinha dois andares. No térreo funcionava um museu. No segundo andar, a proprietária do imóvel tinha transformado em um apartamento, que, diga-se de passagem, era bem amplo. Neste apartamento havia uma varanda lateral e ao final uma escada em caracol que dava acesso a um mezanino.
No fim da tarde como era de costume, ia ao Museu fechá-lo. Deparei-me com um Senhor gordo muito carrancudo e em seu colo um bebê. Estavam em uma poltrona. Ao me aproximar, perguntei-lhe o que desejava e informei que o horário de visita havia terminado e pedi para ele voltar no dia seguinte, contudo, para minha surpresa ele respondeu: “- Senhorita, essa casa é minha. Você e seu esposo é que precisam sair imediatamente deste prédio. E não se esqueça de levar seu jardim”. Num piscar de olhos, o Senhor gordo e o bebê sumiram bem diante de meus olhos. Nem ao menos pude retrucar-lhe com perguntas: “ como ele sabia de Cláudio? E do meu jardim? Ah poderia ter visto na varanda o meu pequeno roseiral!”
Não conseguia encontrar nenhum argumento plausível para a situação que ali se delineou, de certo, ao contar ao meu marido, este diria: “mulher, estás a delirar?”. Porém, não me restava alternativa... Esperei ansiosamente por Cláudio...
Apesar de todo o ceticismo vacilante, ele acreditou... Noutro dia, a proprietária estava providenciando a nossa mudança... Uma semana depois, caminhando pela orla no fim da tarde, parei um instante na frente do solar como que para matar a saudade e novamente vi o Senhor Gordo sentando na poltrona com o bebê em seus braços. A feição dele era diferente... Tranquilidade!