O SOLAR
Era um solar bem conservado.
Ele tinha dois andares. No térreo funcionava um museu. No segundo andar, a
proprietária do imóvel tinha transformado em um apartamento, que, diga-se de
passagem, era bem amplo. Neste apartamento havia uma varanda lateral e ao final
uma escada em caracol que dava acesso a um mezanino.
No fim da tarde como era de
costume, ia ao Museu fechá-lo. Deparei-me com um Senhor gordo muito carrancudo
e em seu colo um bebê. Estavam em uma poltrona. Ao me aproximar, perguntei-lhe
o que desejava e informei que o horário de visita havia terminado e pedi para
ele voltar no dia seguinte, contudo, para minha surpresa ele respondeu: “-
Senhorita, essa casa é minha. Você e seu esposo é que precisam sair
imediatamente deste prédio. E não se esqueça de levar seu jardim”. Num piscar
de olhos, o Senhor gordo e o bebê sumiram bem diante de meus olhos. Nem ao
menos pude retrucar-lhe com perguntas: “ como ele sabia de Cláudio? E do meu
jardim? Ah poderia ter visto na varanda o meu pequeno roseiral!”
Não conseguia encontrar
nenhum argumento plausível para a situação que ali se delineou, de certo, ao
contar ao meu marido, este diria: “mulher, estás a delirar?”. Porém, não me
restava alternativa... Esperei ansiosamente por Cláudio...
Apesar de todo o ceticismo
vacilante, ele acreditou... Noutro dia, a proprietária estava providenciando a nossa
mudança... Uma semana depois, caminhando pela orla no fim da tarde, parei um
instante na frente do solar como que para matar a saudade e novamente vi o
Senhor Gordo sentando na poltrona com o bebê em seus braços. A feição dele era diferente...
Tranquilidade!